Maior feira de varejo do mundo em tamanho, Euroshop 2017 aconteceu no início de março na Alemanha e contou com mais de 2,3 mil expositores de 61 países, que mostraram as principais tendências e novidades para o setor.
Desenvolver estratégias para o futuro é parte importante da rotina de um empreendedor, principalmente do varejista. Afinal, não só as preferências dos clientes mudam a cada instante, como também novas gerações passam a integrar o mercado consumidor – vide os millennials (nascidos entre os anos de 1980 a 1995). Dessa forma, tecnologias que aliam conforto à agilidade, informação e eficiência energética, além das buscas incessantes por reduções de custos, passaram a fazer parte do leque de exigências do varejo
Muitas dessas inovações puderam ser observadas durante a Euroshop 2017, maior feira de varejo do planeta em tamanho e número de expositores. O evento, que ocorre a cada três anos, aconteceu no início de março, entre os dias 5 e 9, em Dusseldorf, no oeste da Alemanha, e contou com mais de 2.350 expositores de 61 países diferentes em mais de 127 mil metros quadrados de novidades separadas em 18 pavilhões.
“A Euroshop é o principal termômetro de tendências que temos no varejo mundial. É nela que a gente observa as novidades que chegarão, de fato, às gôndolas ou as que estão em fase final de testes ou desenvolvimento. Praticamente tudo que acontece na feira você poderá encontrar nas lojas dentro de alguns anos”, define o presidente de umas das principais associações globais de marketing para varejo, a Popai Brasil, Sérgio Barbi. O executivo liderou a maior comitiva de brasileiros presentes no evento.
Neste ano, de acordo com Barbi, uma das principais orientações observadas na feira era a preocupação com a experiência de compra dos clientes dentro da loja física. Passam a se tornar comuns e mais acessíveis em questões financeiras os equipamentos que promovem uma integração entre o mundo digital e o físico. Se antes eram necessários diversos fornecedores para desenvolver essa tecnologia, agora apenas um e com custos mais baixos, principalmente na Europa, já dão conta do recado.
Um dos produtos que chamou atenção dos brasileiros foi um contador eletrônico que, além de mensurar o tráfego de clientes na loja, ajusta automaticamente a sonorização, iluminação, temperatura do ar-condicionado e outras funções do ambiente de acordo com o fluxo de clientes. “A função da loja agora não é mais estocar produtos, mas ampliar a experiência com os clientes. Para isso, os seus equipamentos mobiliários, comunicação, percepção sensorial e todos os atributos precisam interagir mais e melhor na experiência de compra. Esse tipo de tecnologia (como a do contador) facilita o desenvolvimento desses ambientes”, comenta Barbi.
Interagir com o consumidor que entra na loja também passa a ser uma função tecnológica, e não somente dos vendedores. Dos dezoito pavilhões da Euroshop 2017, ao menos quatro eram totalmente dedicados a tecnologias de comunicação com o cliente, como manequins sofisticados, displays digitais e até robôs que realizam o primeiro atendimento ao consumidor quando ele adentra à loja. No Brasil, no entanto, esse tipo de equipamento poderá demorar um pouco mais para chegar, já que o País ainda atravessa um momento econômico conturbado, o que inviabiliza as empresas de investirem nesses projetos.
Tecnologias à mão
Algumas tecnologias mostradas na feira, porém, estão sim ao alcance dos lojistas brasileiros. A utilização do LED para uso comercial, por exemplo, não gera despesas tão altas como antigamente, já que os aparelhos se tornaram mais econômicos e versáteis. “Os fabricantes se deram conta de que os equipamentos em ambientes públicos não precisam da mesma definição de imagem e acabamento dos domésticos, mas precisam ser mais duráveis e maiores. O potencial de uso de vídeo atraiu investimentos expressivos da indústria, como observamos na feira, e novos equipamentos chegaram ao mercado mais baratos e trazendo a possibilidade de transformar os espaços de loja em grandes telões, que podem ser utilizados como vitrines ou até mesmo interagir com os consumidores”, diz Barbi.
Mesmo amplamente comentada nas últimas edições da Euroshop, a conectividade segue importante para a evolução do varejo. Isso porque há alguns anos as lojas digitais na internet tomaram parte dos clientes que compravam diretamente no comércio físico. Em 2016, por exemplo, o fluxo de visitantes nos shopping centers brasileiros caiu 3,5%, segundo dados do Índice de Visitas a Shopping Centers (IVSC), desenvolvido pela Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce) em parceria com a FX Retail Analytics, que é especializada no monitoramento de fluxo do varejo nacional.
Uma estratégia de venda conectada e disseminada pela Euroshop 2017 era exatamente o ‘click and collect’. “Os sites de e-commerce já provaram que podem gerar vendas para a loja física. Isso fica ainda mais claro com a opção do cliente coletar o produto comprado via internet diretamente no estabelecimento. Antigamente, esses eram dois canais separados. Visualmente e pelo que podemos acompanhar na feira, há um forte movimento de integração dos canais, o que pode ajudar a gerar fluxo de volta ao comércio”, explica o presidente do conselho da Associação Brasileira da Indústria de Equipamentos e Serviços para o Varejo (Abiesv), Júlio Takano. O conselheiro também esteve presente na Euroshop deste ano.
Segundo ele, praticamente todo o varejo europeu, com exceção dos pequenos negócios, oferece o ‘click and collect’. No varejo norte-americano a tendência é semelhante. Por aqui, alguns lojistas trabalham com o procedimento em fase de testes, mas na visão de Takano é possível que se torne popular em alguns anos. “Unir o digital ao físico é primordial para evoluir”, resumiu.
Iluminação e eficiência energética
Produtos à mostra com claridade e objetividade no posicionamento facilitam a compra do consumidor. Essa estratégia ficou bastante evidente na Euroshop 2017 com grandes estandes e até pavilhões inteiros dedicados à iluminação das lojas.
A utilização de lâmpadas em LED não só passa a ser obrigatória, como até a sua localização e foco ganham ainda mais importância. Tudo para deixar o produto em ênfase sob os demais equipamentos que fazem parte de uma loja, mas sempre pensando também na eficiência energética.
“No Brasil, não possuíamos tanto essa cultura de pensar na iluminação como fator de conversão de vendas. Na feira, vimos que a questão energética e de iluminação não só pode ser aproveitado para essa conversão como para reduzir os custos com energia. E vale lembrar que nós temos uma das tarifas mais caras do planeta”, ressalta o arquiteto e urbanista da Bragaglia Arquitetos Associados, Ricardo Bragaglia.
Diante as novidades que observou na feira, Bragaglia conta que pretende trazer muitas das tecnologias para as lojas da supermercadista Super Muffato. A empresa que leva o sobrenome de Ricardo é a responsável pela montagem de novas unidades da rede em todo o Brasil. “Pudemos conhecer algumas tecnologias de revestimento, por exemplo, que podem baratear o custo de montagem de uma loja e ao mesmo tempo deixarmos o espaço mais ‘clean’. Também observamos grande utilização de madeira de reflorestamento e alumínio nas lojas. Em contrapartida, uma redução na utilização de materiais mais pesados, como ferro e aço, por exemplo”, afirma. “O único problema é que no Brasil esse tipo de material ainda é custoso para o empresário”, continua. Até marcas de luxo como a britânica Burberry estão utilizando esses conceitos em suas novas unidades, de acordo com Bragaglia.
A eficiência energética também esteve presente nos refrigeradores, com as indústrias abastecendo seus equipamentos com gás carbônico (CO²) ao invés de amônia. A Danfoss, por exemplo, apresentou um produto que promete reduzir os custos com energia em até 50% por loja: o smart store. Aliado a um sistema avançado de recuperação de calor, o esquema pode chegar a produzir energia para o local.
Automação
Na área de automação, o destaque ficou por conta das etiquetas eletrônicas, que atualmente fazem parte da rotina dos supermercados europeus, mas principalmente dos alemães. A principal virtude do produto é disponibilizar a alternância de preços à distância, via software e sem a interferência humana.
“Já pensou você poder alterar os preços de um produto em uma loja física com apenas um clique e à distância? ”, questiona o diretor da JPG Group – companhia especializada em soluções para o varejo –, Jaime Gavioli. De acordo com ele, essa é uma realidade dos varejistas alemães e que poderia chegar ao Brasil em breve. Contudo, a tecnologia ainda enfrenta resistência dos empresários brasileiros.
“Os lojistas brasileiros movimentam os preços diversas vezes ao dia. A movimentação é muito grande, por isso essa solução seria muito bem-vinda aqui. O problema é que ela foi mal vendida por aqui e passou a ter resistência de parte do setor”, reconhece Gavioli.
Com a ajuda das inovações, o varejo mundial deve ver suas vendas crescerem entre 3,7% a 4,2% em 2017, em comparação com o ano anterior, segundo projeção da National Retail Federation (NRF). Para as vendas on-line, a estimativa é de um avanço entre 8% e 12%. As projeções excluem a venda de automóveis, combustíveis e restaurantes.
Fonte: Lamonica Conectada
Por Sammy Eduardo da Rocha
http://editoralamonica.com.br/como-serao-nossas-lojas-amanha/