Como as empresas devem agir em período de recessão

PIBCompanhias saudáveis precisam investir em nichos prósperos, mesmo com a crise econômica que traz ameaças como inflação e falta de confiança do consumidor

A economia brasileira vive um momento de recessão que abala a confiança das empresas e do consumidor. Depois de um período de aproximadamente seis anos, entre 2004 e 2010, em que o PIB crescia a 5%, agora a expectativa é de que 2014 feche com apenas 2% de aumento, de acordo com dados do IBGE. O somatório de fatores que fez com que a prosperidade da economia retrocedesse vai desde a inflação, a redução da oferta de mão de obra, a desaceleração dos negócios causada pela Copa do Mundo e a insegurança com relação ao novo governo que será eleito.

O cenário se divide: de um lado, as empresas com medo da baixa performance investem timidamente e, do outro, os consumidores se sentem inseguros e evitam gastos maiores. O reflexo destes comportamentos aparece no ranking de crescimento nacional. Neste ano, o Brasil foi o segundo país da América Latina que menos cresceu, atrás apenas da Argentina, que foi abatida por uma crise interna. Os setores mais afetados são aqueles que demandam um gasto financeiro maior. É o caso dos imóveis e também dos automóveis, que recuaram significativamente. A venda de carros caiu 7,4% só em agosto deste ano, segundo dados da Fenabrave.

Mesmo que o macrocenário aponte para circunstâncias adversas, existem setores, como o de agronegócio, que se posicionam fora da curva e seguem em crescimento, apresentando boas alternativas para os empreendedores lucrarem. “Quando a economia vai bem, todo mundo quer aproveitar a mesma oportunidade. Quando a economia vai mal, essa recessão de várias empresas empodera quem tiver condição de aproveitar”, avalia Ricardo Amorim, CEO da Ricam Consultoria, em entrevista ao Mundo do Marketing.

Crescimento não sustentável
O que deu errado para frear o ritmo de crescimento brasileiro? Um dos principais fatores é o esgotamento da infraestrutura, que não foi suficiente para comportar o crescimento de produção de 5% ao ano. Para se manter em uma constante de desenvolvimento, a gestão do governo, bem como os empresários, deveriam ter focado em investimentos no setor. Outro ponto negligenciado foi a automatização dos processos e na qualificação da mão de obra.

Estes dois aspectos estão diretamente ligados a aumento de produtividade e de qualidade. A deficiência produziu um quadro antagônico no Brasil: ao passo em que a taxa de desemprego caía, chegando a 5% em 2012, e a demanda por consumo crescia, no outro extremo, as empresas não estavam prontas para entregar o contingente esperado. A consequência é a inflação que já supera as previsões.

Acreditava-se que o índice de inflação no Brasil, em 2014, seria de 4,5%. No segundo semestre deste ano, entretanto, a taxa beira os 7%. “Tivemos um desequilíbrio entre oferta e demanda, o que puxou os preços para cima. Com a redução de mão de obra disponível, os únicos caminhos para aumentar a produção são a automatização ou a qualificação”, comenta Ricardo Amorim, que também integra a bancada do programa Manhattan Connection, da GloboNews.

Entrave energético
Erros políticos também contribuíram para agravar os custos e a qualidade de vida dos brasileiros. O sistema elétrico é um exemplo. A energia brasileira figura entre as mais caras do mundo e, para reduzir estes custos para o consumidor final, o governo propôs ampliar o prazo de concessão do fornecimento em troca de redução no preço final do serviço. “Isso reduziu a rentabilidade das empresas do setor. Consequentemente, elas começaram a achar que os investimentos que faziam não tinham retorno e não investiram mais o suficiente. O povo então passou a sofrer com racionamentos e apagões”, comenta Ricardo Morim.

As consequências apareceram quando, para manter o suprimento energético, as concessionárias precisaram recorrer às termoelétricas. A conta a ser paga soma R$ 30 bilhões em dois anos.

Nordeste em alta
O interior do país é a escolha de muitos empresários atraídos pela balança favorável do agronegócio. Enquanto diversos setores da indústria concentrados nos grandes centros sofrem com a saturação, o setor de alimento se mantém saudável, apesar das circunstâncias econômicas. Muito desta prosperidade se deve à exportação de matérias-primas nacionais para países como a China.

Na contramão da economia, o superávit agrícola era de R$ 9 bilhões em 2011, passando para R$ 93 bilhões em 2013, de acordo com dados do IBGE.  O agronegócio movimenta mais o interior do que as capitais do Brasil, o que leva as regiões rurais a crescerem mais do que as grandes cidades há mais de 10 anos. São, portanto, um investimento promissor. Os principais polos agrários do país se concentram nas regiões Norte e Nordeste, onde o desenvolvimento não se dá apenas por causa das atividades do campo, mas está diretamente ligado à ascensão social massiva entre as pessoas destas localidades.

O aumento do poder aquisitivo veio em grande parte como fruto de programas assistencialistas do governo Lula, como o Bolsa Família. “Mais da metade dos moradores de todos os estados do Nordeste recebem o benefício e gastam cada centavo, isso faz a economia girar. Mais gente compra bolacha na venda, o dono da venda compra uma TV nova, o vendedor da loja de eletrodomésticos ganha mais e troca de carro, o vendedor de carro por sua vez consegue comprar a casa própria”, analisa Ricardo Amorim.

O maior poder de compra insere estas pessoas em novos consumos, abrindo consequentemente mercados para categorias diversas. “60 milhões de brasileiros entraram nas classes A, B e C, sendo a maior parte deles moradores do Nordeste. Este é um mercado fértil em que vale a pena investir para atender às demandas que foram criadas”, pontua Ricardo Amorim.

Copa e Olimpíadas: quem ganha e quem perde?
Completa o cenário nacional de 2014 a Copa do Mundo da FIFA, evento que dividiu opiniões: foi vilão e ao mesmo tempo herói, dependendo do ramo de atuação de cada empresa. Passado o campeonato mundial, já se inicia a insegurança somada à expectativa pelas Olimpíadas que também serão sediadas aqui, em 2016. “Tanto o Guido Mantega quanto a Dilma disseram que a Copa seria a solução para os negócios, isto antes do evento. Quando saiu o resultado do PIB, a desculpa foi exatamente a Copa para o baixo rendimento”, comenta o CEO da Ricam Consultoria.

A competição foi benéfica para setores específicos, como os de bares, cerveja, amendoins, turismo e artigos esportivos. “A Copa não é boa ou ruim em si, mas a natureza do evento tende a favorecer alguns segmentos. A questão é enxergar sempre onde está a oportunidade e o mesmo vale para as Olimpíadas”, aponta Ricardo Morim.

Por outro lado, o setor imobiliário foi um dos primeiros a sentir reflexos negativos da competição. Muitos consumidores deixaram a compra da casa própria para depois da Copa do Mundo, com a expectativa de que os preços fossem subir extraordinariamente próximo ao torneio e que depois cairiam bruscamente, como em uma bolha.

Independentemente de a teoria se confirmar, a tendência é de que aos poucos o consumidor recupere a segurança e retome a compra que foi adiada, desde que haja uma sensação de solidez financeira. “A única forma de o Brasil crescer nos próximos meses é dar um choque de confiança no consumidor. Isso porque o nível mais baixo de confiança dos últimos 10 anos faz as pessoas sentirem medo do futuro e evitarem comprar coisas de alto valor monetário, como carros e imóveis”, comenta o CEO da Ricam.

Assista ao hangout completo com Ricardo Amorim, CEO da Ricam Consultoria,em entrevista ao Mundo do Marketing.

Por Luisa Medeiros

Fonte: Mundo do Marketing

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