A bolha da internet e a crise argentina não impediram Hernán Kazah de ter sucesso com o Mercado Livre. Saiba como enfrentar o pessimismo
A iminência das eleições presidenciais e os resultados econômicos ruins vêm deixando os brasileiros um tanto pessimistas quanto ao presente e o futuro do país. No entanto, para o argentino Hernán Kazah, cofundador do Mercado Livre, o empreendedor de verdade não deve se deixar esmorecer.
O Mercado Livre foi criado em 1999, na Argentina. No ano seguinte, um fenômeno conhecido como o estouro da bolha da internet fez o valor de mercado das empresas de tecnologia desabar e levou ao fechamento de várias companhias. Em 2001, a economia argentina passou por uma grave crise. “O golpe foi forte, mas com o foco na equipe, no produto e nos clientes, continuamos a crescer. Transformamos o mau momento em oportunidade”, disse Kazah no Day1, evento de empreendedorismo que aconteceu nesta quarta-feira (17/9), em São Paulo.
A resiliência do Mercado Livre culminou, em 2007, em ganhos de US$ 800 milhões a Kazah e seu sócio, Marcos Galperín, após a oferta pública inicial (IPO) da empresa na bolsa de valores americana Nasdaq.
A postura de Kazah pode ser útil aos brasileiros que não estão muito confiantes. Confira algumas dicas de gestão do argentino:
1. Ideias não são tudo
O Mercado Livre foi criado para ser uma espécie de “eBay da América Latina” – ou seja, a plataforma nasceu como uma réplica de um modelo de negócio já existente. Kazah reconhece que não foi o único a ter uma ideia semelhante. “Havia umas 80 empresas fazendo o mesmo que nós, mas só o Mercado Livre sobreviveu. Isso mostra que o principal é desenvolver e executar. Uma ideia sozinha não leva a nada.”
2. Faça direito
Para o argentino, os empreendedores nunca devem “abraçar o mundo”. Ele afirma que tal impulso é comum, mas quase nunca benéfico – afinal, a vontade de fazer várias coisas ao mesmo tempo faz com que nenhuma delas seja bem executada. “Prefiro trabalhar em poucas frentes e entregar um resultado nota 10 a fazer mil coisas medíocres”, diz Kazah.
3. Valorize o que realmente importa
De acordo com Kazah, uma empresa de sucesso tem um bom serviço, produtos e serviços de primeira linha e funcionários felizes – e é possível conseguir tudo isso, apesar do momento econômico de um país. “Superamos tudo ao focarmos na qualidade da plataforma, em satisfazer o cliente e em valorizar a equipe. Mesmo depois da ‘bolha’ e da crise, continuamos bem”, diz.
4. Não dê ouvidos aos pessimistas
Ao criar o Mercado Livre, Kazah teve de ouvir várias opiniões pessimistas. “Diziam que ninguém jamais compraria pela internet. Mesmo assim, continuamos trabalhando.” Depois, na época do IPO, havia gente dizendo que uma empresa latino-americana jamais teria sucesso em uma Bolsa americana. No entanto, os US$ 800 milhões da oferta inicial mostram que os críticos estavam equivocados. “A sorte é que não ouvimos ninguém”, afirma o argentino.
5. Não faça pelo dinheiro
Para Kazah, faturar alto não pode ser o principal objetivo de um empreendedor. “Do contrário, a pessoa fica rica e perde a vontade. O ideal é pensar que a meta é enfrentar desafios. Ao pensar assim, o dono de um negócio tem sempre um objetivo e não perde tempo reclamando”, afirma.
6. O fim é não ter fim
Depois de abrir o capital do Mercado Livre, Kazah poderia ter parado. Mas exatamente pelo desejo de enfrentar desafios, ele continuou na ativa e criou outro negócio: o fundo de investimentos Kaszek Ventures. “Empreender me deixa em um desconforto contínuo, e isso não é nada ruim. Me faz querer atuar em coisas novas. O principal fim do empreendedor é não ter fim.”
Por Adriano Lira